Caetano Veloso e Maria Bethânia na Arena do Grêmio
Horário
22/03/2025 9:00 pm(GMT-03:00)
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Caetano Veloso e Maria Bethânia na Arena do Grêmio A turnê Caetano & Bethânia tem um significado especial para a música popular brasileira, para
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Caetano Veloso e Maria Bethânia na Arena do Grêmio
A turnê Caetano & Bethânia tem um significado especial para a música popular brasileira, para a história dos dois irmãos e para os fãs que sonham em vê-los em um só espetáculo. Nascidos em Santo Amaro, no recôncavo baiano, Caetano Veloso e Maria Bethânia são reconhecidos como artistas essenciais à formação cultural de várias gerações, com trajetórias projetadas para além da música, inspirando criadores em todas as partes e em todas as artes.
Esse reencontro histórico em arenas do país permite a cada espectador uma visão ainda mais clara da força criadora de Caetano e Bethânia, unidos desde a infância pela memória de canções. Na família Veloso, falou mais alto a sugestão de Caetano para o batismo da irmã como “Maria Bethânia”, nome extraído de uma música de Capiba cantada por Nelson Gonçalves.
A voz de Bethânia seria um dos motores da entrega de Caetano à vida de compositor. A história dessa partilha musical se iniciou há 60 anos, no show “Nós, por exemplo”, no Teatro Vila Velha, em Salvador, em 1964. Ainda muito jovens, numa fase de revelação de caminhos para a música brasileira, eles surgiram como artistas inseparáveis de sua geração, no meio do agito das artes na capital baiana, ao lado de Gal, Gilberto Gil, Tom Zé, Roberto Santana, Alcyvando Luz, Djalma Corrêa, Fernando Lona, Piti e Perna Fróes.
Bethânia despontava, porém, como uma cabeça acima de movimentos, determinada a criar um projeto estético fiel às suas paixões musicais profundas. Antes e depois do tropicalismo, Caetano seria um tradutor fraterno dessa poética.
Com a mudança de Santo Amaro para Salvador, em 1960, os irmãos se tornaram cúmplices nas descobertas de uma grande cidade, da literatura de Clarice Lispector e de seus destinos artísticos. Juntos, experimentaram o teatro, a música e o cinema.
Caetano era então o guia urbano de Bethânia, ainda saudosa da vida e da alma santamarenses. Em sua ida para o Rio de Janeiro, onde substituiu Nara Leão no espetáculo Opinião em 1965, Bethânia viajou acompanhada de Caetano, atendendo ao pedido do pai, José Telles Velloso.
O sucesso da cantora teria consequências na história da música popular e no desenvolvimento das carreiras de Caetano, Gal e Gil.
Aos 18 anos, ela avisou ao irmão que dali para frente definiria sozinha seu rumo no mundo. Mas, desde então, suas trajetórias artísticas não deixaram de estar entrelaçadas. Caetano compôs mais de 30 canções para gravações originais de Bethânia, pensando no alcance de sua voz e em sua presença cênica.
Ainda na juventude, esse arco de belezas envolveu “Sol Negro” (em duo com Gal Costa) e “De Manhã” e se desenvolveria em joias como “Gema” e “Reconvexo”, um hit da “destemida Iara”.
Mesmo canções registradas pelo próprio Caetano ganharam versões de forte marca autoral de Bethânia, como “Tigresa”, “O Ciúme” ou “Sete Mil Vezes”. Em “Um índio”, nos Doces Bárbaros, a cantora reivindicou para si a utopia indígena de Caetano. Não à toa, o escritor argentino Julio Cortázar suspeitava que os dois irmãos eram uma só pessoa.
Em seis décadas de carreira, Caetano e Bethânia sustentaram um pacto artístico silencioso, uma identidade atemporal que aflorou em momentos decisivos: no álbum “Drama” (1972), produzido por Caetano, relevante para seu aprendizado em estúdio no retorno do exílio; na formação do grupo Doces Bárbaros, em 1976, quando Bethânia aglutinou seus manos baianos; no show que virou disco ao vivo, em 1978; em duos pontuais em suas discografias e – impossível esquecer – nas festas familiares no quintal de dona Canô, em Santo Amaro.
Além de fazer letras, por vezes incorporando frases literais de Bethânia (“Baby” nasceu assim), ele também vestiu com melodias os poemas de Waly Salomão destinados à Abelha-Rainha. Com ela, aprendeu a amar a jovem guarda de Roberto Carlos. Esse elo musical e existencial ganhou um sentido elevado em tempos sombrios.
No exílio em Londres, em 1971, Caetano cantou para o Brasil: “Maria Betha?nia, please send me a letter”. Na pandemia, como mensagem contra a tristeza repentina do mundo, a irmã sugeriu que ele cantasse “Noite de Cristal”, que clama por “dias de outras cores”. A canção entraria no álbum “Meu Coco”, de 2021
A identificação mútua originou pontos brilhantes na criação do compositor, que chegava a traduzir melhor suas próprias emoções a partir da presença dramática da irmã. Caetano tem sido um decifrador do mito artístico de Bethânia dentro e fora dos palcos. Nessa linhagem de canções, podem ser lembradas “Drama” (“minha voz soa exatamente/ de onde no corpo da alma de uma pessoa/ se produz a palavra eu”), “Tapete Mágico” (“no palco Maria Betha?nia desenha-se todas as chamas do pa?ssaro”) e “Motriz”, em que ambos celebram a voz da mãe, Canô, como a matriz de um dom (“em tudo a voz de minha mãe/ e a minha voz na dela”). Em “Vaca Profana”, a irmã é sinônimo de intensidade amorosa: “Quero que pinte um amor Betha?nia”.
Em outros momentos, seus projetos artísticos levaram para o mundo os amores, as festas, as alegrias e as dores dos nascidos em Santo Amaro. Em “Purificar o Subaé” (1981) os irmãos cantaram pela salvação do rio de sua aldeia, falando em nome de todos os rios de todas as aldeias.
Fiel a uma história de tantos desejos, a turnê Caetano & Bethânia vai apresentar em todas as regiões do país a eternidade poética de duas vozes que nos ajudaram a viver, mudar e pensar nosso tempo. A festa, a devoção, o canto de Canô, a dança do irmão Rodrigo Velloso, o som do Recôncavo, o samba da Mangueira, Gal, o raio de Iansã, alto astral, lindas canções: Caetano & Bethânia.
Divulgação
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